Síndrome do “pescoço de texto”.

Uso excessivo do celular aumenta chances de doenças posturais
Qual é a primeira coisa que você faz ao acordar? Vai ao banheiro? Escova os dentes? Se respondeu que “abre as redes sociais”, você não está sozinho. De acordo com uma pesquisa realizada pela Nielsen Ibope, 24% dos brasileiros têm esse hábito. E depois de levantar, tomar café e sair para os afazeres diários? Mais uma olhadinha? O smartphone é a distração também para 46% dos entrevistados que afirmam olhá-lo nos pontos de ônibus ou durante o caminho para o trabalho.
No final do dia, o brasileiro dedicou, em média, 4 horas para seu celular, segundo a pesquisa. E é esse uso excessivo que fez surgir, na comunidade médica, a chamada Síndrome do Pescoço de Texto (ou Text Neck, em inglês).

Segundo especialistas, a postura da maioria das pessoas na hora de ler a tela do celular (com a cabeça pendurada) prejudica a coluna e membros superiores.
Esse é um mal da sociedade moderna. Independentemente do nome, é uma doença que ocorre quando você fica com o pescoço fletido (curvado) por muito tempo. O que aumenta a tensão torácica e diminui a lordose cervical. Em outras palavras, muda a curvatura do pescoço, que deveria ficar alinhado com a coluna e, agora, fica mais à frente”, afirma Sílvio Carlos Ferreira, médico cirurgião de coluna.
A má postura pode acelerar problemas que viriam com o envelhecimento. “Essa forma de segurar (o telefone celular) aumenta a velocidade de degeneração discal e pode acarretar hérnia de disco”, diz Ferreira.

Mãos

Os membros superiores também podem ser afetados, uma vez que estão sendo exigidos em funções que não são naturais. “Os polegares não foram feitos para isso. Foram feitos para prensar. A flexão ativa deste dedo para digitar no celular é desgastante”, conta a doutora Flávia Maria Poletto, cirurgiã especialista em mãos.
O mesmo serve para teclar no computador. “A posição funcional da mão é apoiada na mesa com os dedos dobrados. E não toda esticada. Esse movimento causa um estresse dos ligamentos e pode sobrecarregar os tendões”.

A médica afirma que a situação lembra outro problema de saúde enfrentado pela humanidade, a tendinite do escrivão. “Vamos voltar à Idade Média, quando as pessoas tinham desgaste dos membros superiores de tanto escrever e copiar livros. Só que, agora, o motivo é a digitação”. Risco é maior entre os jovens
Jovens são os mais suscetíveis a dores de coluna. “Esta é a faixa etária que passa a maior parte do tempo conectada. Eles usam o equipamento de qualquer jeito e, quando vem a primeira dor, partem para um remédio. E não é assim. É preciso procurar um fisioterapeuta”, destaca o ortopedista e professor de Medicina na Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Luiz Carlos Angelini.

A tendência é a situação se agravar, já que o celular é usado cada vez mais cedo. “É na adolescência que acontece o estirão. Os ossos crescem muito rápido e os músculos não acompanham. Isso, por si só, já gera encurtamentos musculares e alterações posturais, intensificadas quando aliadas ao hábito de trocar mensagens de texto intensamente. Em cinco ou dez anos podemos esperar grandes queixas de dor cervical desta faixa etária”, afirma o diretor do curso de Fisioterapia da Unisanta, Ivan Cheida.

Atividade física

De acordo com o fisioterapeuta, os pais devem ficar atentos e tentar implantar a consciência da necessidade da atividade física constante. “O músculo tem um gasto energético muito grande. Se a pessoa faz alongamento e se exercita constantemente, ele aumenta de tamanho. Mas, se parar, em três ou quatro meses, o organismo perde tudo aquilo que conquistou e o músculo encolhe para economizar energia”.

Para o ortopedista Angelini, o maior desafio é explicar aos pacientes os riscos de uma postura inadequada. “A primeira coisa que os médicos devem fazer é entender a profissão da pessoa. Muitas vezes, ela trabalha com algo que demanda o uso desses equipamentos eletrônicos. E aí não vai parar. Mas precisamos chamar a atenção do paciente e indicar a forma correta de se tratar, que é sob os cuidados de um fisioterapeuta e não simplesmente fazendo academia”.

Fonte: A Tribuna https://www.atribuna.com.br

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